sábado, 2 de junho de 2012

Dr Osório - antítese


A luz noturna de Sábado chega indiferente e cerra a calçada silenciosa da rua, o Dr. Osório não sabe se está vigilante ou se aguarda pelo passo seguinte a tomar. Após caminhadas de circunstância ao quarteirão, na inquietude de matar o tempo, regressa pela rua de baixo ladeando o jardim dos cisnes. Forçado pelo cansaço, evita entrar no nº 18 do prédio do cimo da Avenida. Senta-se junto do alpendre das escadas meio atordoado pelo calor. Retira do bolso do casaco um papel, dobrado em quatro, já amachucado pelas inúmeras vezes que o guardara. Nele continha um nome e um adeus. A frase que continha, lia-a para dentro de si: “O amor cega a inteligência e é o único alívio do meu cérebro. Mas vou sair. Vou voltar para Barcelona!”. 
A formação em filologia foi-lhe muito eficaz no que respeita à escolha virtuosa das palavras. Mas também lhe coube o favorável manuseamento vão de não se deixar enganar pelo signo delas. 
Como num prolongamento de qualquer situação indesejada os lábios cerravam-se à força e o riso ironicamente a querer soltar-se dos fundilhos da garganta. “Porra Teresa, que desilusão maldita!”. Será este o ultimo dia de Verão?

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